Salam amigos! Conforme o prometido, vou continuar minha narrativa de quando cheguei em Teerã.
📆 Teerã, Irã – 23/08/2013:
Foi em uma sexta-feira (dia de descanso dos muçulmanos) que desembarquei na capital do Irã e fui recebida com muito carinho pelo casal Nader e Ashraf. No carro deles eu não pude deixar de notar os primeiros vislumbres da paisagem fora do centro Teerã, com sua cadeia de montanhas acinzentadas ao fundo, e a estrada margeada por árvores que eu julguei serem ciprestes ou abetos. Mais adiante se destacavam blocos de prédios residenciais muito comuns em Teerã e obviamente, as placas bilingues em persa e inglês (veja o vídeo no final do post).
Quando cheguei ao apartamento dos meus anfitriões às 7:00 horas da manhã, a primeira coisa que eu queria era um banho. Mas depois de tantas horas de viagem, meu cérebro me sabotava e esqueci tudo que eu havia aprendido da língua persa e ninguém na família falava inglês! Foi um desafio pedir por um banho em persa, nem o vocabulário english-persian que eu havia impresso foi útil naquela hora! A solução foi ligar para Afsaneh e pedir para ela traduzir para mim o que eu precisava…
O apartamento da minha família em Teerã era extremamente amplo, confortável e decorado com muito bom gosto, uma tendência que eu observei em todas as casas onde eu estive nas outras cidades. Para meu alívio, ali havia toalete nos estilos iraniano e ocidental!
Após o banho e um breve descanso, pedi para o garoto Ali, o filho mais novo do casal deixar eu usar o computador. Conversei pelo Skype com meus amigos de Talesh, os irmãos Maryeh e Peyman que aguardavam aflitos por notícias minhas! Maryeh havia chorado de tanta preocupação, enquanto eu tentava acalmá-la explicando que antes de sair de casa no Brasil, não havia conseguido conectar à internet para avisá-los. Ainda me lembro da correria na qual eu imprimi os horários das minhas reservas de vôos no Irã faltando apenas 1 hora para sair de casa… Por fim, pedi a eles que tivessem um pouco de paciência, pois eu já tinha um voo reservado para Mashhad no sábado, mas no domingo eu finalmente desembarcaria no aeroporto de Rasht, onde eles iriam me buscar e me levar até a casa deles em Talesh (província de Gilan).
Com poucas horas em Teerã, comecei a sentir o famoso efeito jet lag, devido a mudança de fuso-horário. Dormi profundamente das 10 às 17 horas… Deixaram no quarto, só para mim um monte de frutas, chá e balinhas, aí sim me dei conta do luxo que era a minha condição de hóspede em uma casa iraniana! Ashraf me acordou e me serviu um delicioso almoço de arroz com carne, batatas e um molho de romã e mast (iogurte). Apenas a quantidade de comida superava a minha fome! Outra tendência que eu iria observar em todas as casas iranianas: a quantidade de comida servida para o hóspede é maior do que a que eles próprios comem usualmente!
À noitinha, descemos para o hall do prédio onde havia o estacionamento, uma mesa de ping-pong, uma espécie de cama de madeira forrada com tapetes e almofadas onde tiramos fotos, e um laguinho artificial com luminárias, uma pequena ponte e plantas aquáticas. Ali conheci os meninos Alireza e Mohammad Amin que são sobrinhos de Nader e Ashraf, e moram no apartamento ao lado. Mohammad é o único que fala inglês, é super doce e inteligente, toca piano e desenha muito bem. Ele pergunta se eu tinha visto os peixes no laguinho. Eu respondo: “que peixes? Há peixes alí?” Com muito custo ele conseguiu me mostrar os peixinhos minúsculos na água escura, enquanto os outros meninos jogam ping-pong, as mulheres conversam e as crianças fazem bagunça, como em qualquer outro lugar do mundo…
Mesmo à noite ainda sinto bastante calor ali, ainda mais com o camisão bege de tecido sintético que eu vestira. Aliás essa é uma das dicas que eu dou para as amigas: não use roupas nem lenços de tecido sintético no Irã, pois esquentam o dobro! Decidi subir para o apartamento, a fim de me livrar das roupas calorentas. Logo em seguida, a família serviu o jantar da maneira tradicional: em uma sofreh, que consistia em uma toalha descartável forrada sobre o tapete da sala. Comemos sentados no chão, pão, kotlet (bolinhos de carne), tomates, presunto picles e um tipo de melão bem verdinho regados a Fanta e Lemon Ice não alcoólico. Enquanto a família acompanhava uma novela turca na TV via satélite, eu apreciava a experiência!
Lembro me também que no decorrer do dia fui apresentada a tantas outras pessoas da família, todos igualmente simpáticos e amorosos, mas confesso que é difícil guardar o nome de todos. Dei de presente para os donos da casa cocadinhas, balas de café e um chaveiro, e para as crianças, pins com bandeira do Brasil que eles pareceram adorar. Antes de dormir entrei no Skype mais uma vez para ver se encontrava algum amigo brasileiro disponível para dar minhas primeiras notícias. Vários amigos queriam falar comigo ao mesmo tempo, enquanto a família continuava me enchendo de mimos como biscoitos, chá e até um típico sorvete bast irani altas horas da noite!
Passei o meu primeiro dia em Teerã só descansando e sendo mimada por aquela família adorável, que apesar da barreira idiomática me fez entender o verdadeiro significado da proverbial hospitalidade iraniana. Mas, na manhã seguinte eu teria que estar com minhas malas arrumadas e acordar bem cedo e voar para Mashhad onde eu passaria aos cuidados de outra família. Com meu relógio biológico alterado, deitei mas não consegui pegar no sono. Fiquei tentando sintonizar no celular algumas estações de rádio do Irã, a maioria tocava os versos do alcorão, flash-backs e leituras de poemas com fundo musical…
Bem amigos, por hoje é só, no próximo post contarei como foi minha chegada em Mashhad, uma cidade sagrada para os xiitas e também a mais distante que eu já estive em toda minha vida!
>> Fiquem com um pequeno registro dos meus primeiros vislumbres das terras da Pérsia!