📆 Guarulhos, Brasil – 22/08/2013:
Cheguei cedo no aeroporto Internacional de Guarulhos (umas 21:30). Primeira viagem internacional, ansiosa e preocupada em não me atrasar, o recomendável é que chegasse com 3 horas de antecedência, acabei chegando com 6 horas de antecedência! Bichinho do mato, fui auxiliada por um gentil senhor peruano a encontrar o guichê da Turkish Airlines (que só abriria dali há 3 horas)!
Sozinha ali com uma mala e uma mochila pesadíssimas, sentei para tomar um café e fiquei papeando no celular com minha amiga Karla até dar a hora de despachar as malas e seguir para o portão de embarque… O meu voo saiu às 3:30 da madrugada. Como eu nunca tinha voado antes, senti um frio na barriga durante a decolagem, mas dali a pouco o sono dominou tudo. No avião, a maioria dos passageiros teria como destino final, Istambul, na Turquia onde eu teria que esperar mais 3 horas por um outro vôo até Teerã, no Irã.Acredito que eu deveria ser a única brasileira indo para o Irã!
Escolhi a Turkish Airlines pelo preço e pela qualidade do serviço que um outro amigo que já foi para o Irã me garantiu ser das melhores. Na classe econômica tem travesseiro, cobertor, chinelinho e um estojinho com creme dental, máscara de dormir, meias e hidratante labial. As refeições consistiram de café, almoço e lanchinhos extras. Porém os comissários são todos turcos e falam somente em inglês. Para quem está acostumado a viajar para o exterior, esses detalhes podem nem ser tão importantes, mas para mim foram, uma vez que do meu lado havia outras passageiros que não entendiam inglês e precisavam de ajuda por exemplo, para escolher a refeição.
Enfim, de Guarulhos a Istambul são 13 horas de vôo. Tem gente que dorme a viagem toda, o que não é o meu caso, ainda bem que tinha como se distrair com as músicas e documentário disponíveis na telinha diante da minha poltrona ou vislumbrando desertos e mares pela janela. Antes de pousar em Istambul, o avião faz uma curva medonha e vai baixando ainda sobre o mar, dá um gelo na espinha!
Cheguei em Istambul “capengando” depois de tantas horas sentada. Desejei uma boa viagem para Ângela, a amiga que conheci no voo e me dirigi para o local de transferência. Não sei se devido ao meu cansaço, achei os funcionários do aeroporto de Istambul nervosinhos e mal-educados. Enquanto os turistas passavam pelo detector de metais um rapaz e uma moça de uniforme gritavam com uma voz áspera para levantarem os braços. Dei graças a Deus pelo alarme não apitar comigo e saí toda feliz para a área de embarque, onde deveria aguardar 3 horas até meu próximo voo.
Detalhe importante: na escala você deve acertar o seu relógio para a hora local! Por exemplo quando cheguei a Istambul meu relógio ainda estava com hora de São Paulo, então tive que acertar para a hora local e repetir o mesmo passo quando chegasse em Teerã.
Alguém havia me dito que o aeroporto de Istambul é o mundo! Constatei que é verdade mesmo! Nunca vi tantas pessoas com tantas roupas diferentes, parece um desfile das nações! Vi por exemplo, afegãos de barba turbante e calças bufantes, indianas com saris mega-coloridos e sauditas apenas com os olhos de fora em meio a japoneses, africanos e gringos de bermuda e camisa florida típicos de turista. Mesmo com o calorão que fazia ali, com vontade de entrar logo no clima do Irã, fui ao banheiro, joguei água no rosto para despertar e vesti o meu camisão bege com o maghnae (tipo de véu iraniano) preto.
De olho no relógio e nas telinhas que indicavam o horário do voo e o portão certo, atravessei apressadamente o corredor gigantesco até a sala de embarque. Quando me sentei ali, observava que a maioria das iranianas não faziam a mínima questão do véu antes de entrar no Irã. Algumas usavam roupas bem à vontade, regatas, chinelinhos e até uma freira com seu crucifixo em evidência, todas com os cabelos descobertos. Praticamente “só dava eu toda montada no hejab” ali! Mas isso não pareceu chamar a atenção de ninguém, eu estava tão feliz de ter conseguido chegar sozinha até Istambul e que dali há 40 minutos eu embarcaria para Teerã!
Antes de embarcar no avião para Teerã já senti o clima do país para onde eu estava me dirigindo: rapazinhos cantarolavam animadamente, moças ostentavam cabelos e maquiagens impecáveis. Um senhor muito simpático perguntou de onde eu era, e ao ouvir que eu era do Brasil, sorriu carinhosamente dizendo: “você vai para o Irã? Mas que boa notícia!”
O vôo de aproximadamente 2:30 foi meio tedioso. Avião menor, nada de musiquinhas nem filmes, nem janela! Eu estava sentada ao lado de um jovem casal que dizia ser da cidade de Mazandaran, o rapaz ao constatar minha nacionalidade disse animado: “Wow, a seleção do seu país é a melhor!” E comentou com a esposa que sorriu para mim.
Poucos minutos antes do avião pousar, as mulheres começaram a vestir seus manteaus e cobrir os cabelos com seus shals. Enquanto isso, eu sentia uma grande emoção tomar conta de mim. Enquanto tentava observar pela janela distante as primeiras luzes da cidade de Teerã meus olhos se encheram de lágrimas e eu dizia para mim mesma: “Obrigada Deus, finalmente eu consegui!” Outros passageiros olhavam para mim espantados com meu chororô, o rapaz que estava ao meu lado com a esposa perguntou: “Você está com medo? Não tenha medo! O Irã vai ser muito bom para você…” Eu respondia com a voz trêmula: “Não estou com medo… estou muito feliz! São lágrimas de felicidade! Finalmente eu consegui chegar aqui!”.
📆 Teerã, Irã – 23/08/2013:
Finalmente no Aeroporto Internacional Imam Khomeni (IKA), Teerã às 5:40 da manhã. O movimento ali é muito tranquilo, bem diferente de Istambul. Me dirigi para a imigração, onde eu era a primeira da fila dos estrangeiros, seguida por um grupo de mochileiros. O funcionário que aparentemente não falava inglês, deu uma breve olhada no meu visto no passaporte com um ar sério, leu meu nome com sotaque persa, carimbou e devolveu. O mesmo senhor simpático que havia falado comigo antes de entrar no avião, lá do outro lado (a fila dos iranianos) perguntou se havia dado tudo certo e deu um tchauzinho!
Após pegar minhas malas, que demoraram um tempão para aparecer na esteira, de repente, me deparei com um rosto familiar. Era Majid, o noivo da minha amiga Karla! Ele também me reconheceu! Nos encontramos ali por acaso, ele não esperava por mim mas por um de seus parentes que também chegaria no mesmo local onde eu estava.
Enquanto eu esperava pela família que deveria me receber em Teerã, Majid comprou para mim uma água e tirou uma foto da minha carinha de cansada envolta no hejab negro. Porém não demorou muito até o casal Nader e Ashraf, que são parentes de minha querida amiga Afsaneh chegarem para me buscar. Ashraf me abraçou com muito carinho e Nader arriscou em inglês: “welcome to Iran!”
Saindo do aeroporto no carro deles, eu observava a paisagem e registrava meus primeiros vislumbres de Teerã. Porém, o que aconteceu nesse momento e a seguir vou deixar para o próximo post. Aguardem!