Viagem ao Irã: Mashhad, a experiência da cultura

Aeroporto Mehrabad, Teerã | (Foto: Panoramio)

Salam amigos! Hoje vou contar como foi meu 2º dia no Irã. Como este seria um post muito longo, vou dividi-lo em 2 partes: hoje vou falar da experiência cultural e no próximo post dos locais sagrados que visitei na cidade de Mashhad.

📆 Teerã, Irã – 24/08/2013:

Na noite anterior eu mal conseguira dormir e tive que acordar bem cedo (às 5:40). Seguindo às recomendações de Afsaneh sobre a família que me receberia em Mashhad ser extremamente religiosa, vesti roupas escuras e discretas e o maghnee.

Saímos correndo para o aeroporto enquanto as crianças ainda dormiam. Quem dirigia, era a mãe dos meninos Alireza e Mohammad Amin que também me acompanharam até o aeroporto de Mehrabad. Esse aeroporto que antigamente atendia aos voos internacionais, atualmente é destinado aos voos entre cidades. Ali há um movimento intenso de iranianos de todo país, notei especialmente uma grande circulação de mulás de turbante e mulheres de chador que assim como eu também deveriam estar indo para Mashhad. Quando chegou a hora de ir para a sala de embarque, a familia me deixou aos cuidados de duas senhoras de chador que também estavam à caminho de Mashhad. Elas não falavam inglês, mas faziam gestos para que eu as acompanhasse.

Na hora do embarque, as mulheres devem entrar por uma sala diferente e passar pelo detetor de metais. Quando chegou a minha vez, o alarme disparou por causa de um chaveiro na bolsinha que eu levava por baixo do manteau. Uma funcionária de chador me encarou com uma expressão séria e revistou por baixo de minhas roupas enquanto eu dizia embaraçada: kelide man (minha chave)…

Depois desse momento tenso, ainda faltava um tempinho para o embarque às 9:10. Na sala de embarque, as duas senhoras de chador que se chamavam Nasrin e Nazan, continuavam comigo. Logo chega o irmão mais novo delas, um belo rapaz, trazendo a mãe, uma senhora bem idosa em uma cadeira de rodas. Ao saber que sou do Brasil a família toda me olha com curiosidade, mas sorriem e demonstram simpatia. Nasrin diz que eles são de Mashhad e faz bastante perguntas, testando o meu precário farsi. A cada frase que eu conseguia dizer corretamente ela e os irmãos aplaudiam e exclamavam: Afarin!!!  

Antes de embarcarmos, um ônibus nos levou até o avião da Aseman Airlines. Não precisa nem dizer que sentada ali entre as mulheres iranianas eu virei alvo de olhares curiosos  Ouvia a palavra Berezil para lá e para cá… saquei logo que eu também era o assunto do momento. Quando o veículo entrou em movimento dei meu lugar para uma senhorinha idosa que foi me abençoando até o destino final!

No avião eu me sentei ao lado de um rapaz bem jovem que fica me observando curiosamente enquanto eu estou lendo um livro espanhol sobre o Irã. Ele perguntou em inglês: “Com licença… De onde você é? Em que idioma é esse livro?” Eu respondi: “Sou do Brasil, esse livro é em espanhol, mas minha língua nativa é o português…” Pra variar, ele fica admirado com minha resposta, depois diz que se chama Hassan, é iraniano mas mora na Tunísia e está indo para Mashhad somente para visitar o haram (santuário) do Imam Reza. Ele também diz que ama a cidade de Yazd (onde ele nasceu) e me dá muitas dicas legais sobre o que comer em Mashhad: “Não esqueça de provar o shishlik kebab!”, recomendou ele.

De Teerã a Mashhad dá apenas 1 hora e meia de voo. Quando o avião começa a pousar, consigo vislumbrar a paisagem árida e montanhosa, meus olhos mal conseguem acreditar! Eu nunca estive tão longe em toda minha vida, a poucos quilômetros a leste está o Afeganistão.

No aeroporto, o simpático Hassan e as irmãs Nazan e Nasrin me acompanham até eu pegar minha mala  e encontrar meus anfitriões. Ainda fiz a burrada de perder o ticket da bagagem e enquanto o funcionário do aeroporto me interrogava impacientemente, os 3 iranianos intervieram para me ajudar. Fiquei encantada com tanta gentileza e atenção daquele povo para com uma turista desconhecida! Eu gostaria de ficar mais tempo com eles para retribuir a tanta amabilidade, mas tive que me despedir…

Quem me esperava em Mashhad era Zeynab e seu marido que também se chama Hassan, junto com sua amiga Somayeh. Reconheci logo porque eles seguravam um papel com o meu nome escrito. Zeynab que também usava o tradicional chador  me recebeu com uma linda  rosa vermelha que logo murchou no calorão de Mashhad. Hassan é tão religioso que não aperta a mão de mulheres, ao invés disso, me dirige um respeitoso salam levando as mãos ao coração. (Aliás, o nome Hassan no Irã é muito comum, por ser um dos filhos do venerado Imam Ali).

Janaina diante do mausoléu do poeta Ferdowsi, em Tus, cidade vizinha de Mashhad.
O magnífico mausoléu do poeta Ferdowsi | Foto: Janaina Elias
Detalhes do magnífico mausoléu do poeta Ferdowsi | Foto: Janaina Elias

Do aeroporto eles me levaram direto para conhecer o mausoléu do poeta Ferdowsi em Tus, cidade vizinha. Mashhad é a segunda maior cidade do Irã, capital da província de Razavi Khorasan, minha impressão é que é bem mais árida do que Teerã, com menos árvores margeando as estradas. O calor até que não superou minhas expectativas devido ao fato de estar usando roupas escuras…

Tus é cercada por montanhas de aspecto arenoso de cor ocre. Ali paramos em um parque verdejante no qual se destacava o imponente mausoléu de Ferdowsi! A visão dele me fez estremecer de emoção, um edifício em formato de cubo, todo construído em mármore claro, decorado por poemas em caligrafia persa, no alto destaca-se um lindíssimo relevo do Faravahar. Escadarias nos quatro lados convidam o visitante a se aproximar dessa joia arquitetônica enquanto, outras dão acesso ao subterrâneo, onde podemos visitar o túmulo propriamente dito deste herói nacional.

O interior deste monumento é igualmente de cair o queixo: comparado com a lápide do túmulo que é um modesto bloco de mármore com inscrições em persa. Está rodeado por relevos estonteantes de cenas das batalhas do épico Shahnameh, obra máxima da literatura persa. Ao lado do mausoléu está o Museu de Tus, com um acervo espetacular de quadros, miniaturas persas, peças arqueológicas encontradas na região e artefatos históricos contemporâneos de Ferdowsi.

Interior do mausoléu do poeta Ferdowsi | Foto: Janaina Elias
Relevos no interior do mausoléu de Ferdowsi com cenas do épico Shahnameh | Foto: Janaina Elias
Detalhe da lápide do túmulo do poeta Ferdowsi | Foto: Janaina Elias
Peças do museu de Tus, que fica ao lado do mausoléu de Ferdowsi | Foto: Janaina Elias

Nem Zeynab, nem Somayeh falam inglês, então infelizmente a nossa conversação ficou bem limitada. Elas se esforçam ao máximo para me entender e eu a elas. Foi até engraçado, elas carregavam um livro de inglês o qual consultavam sempre que eu não entendia alguma frase em farsi! Porém, a gentileza delas compensou essas falhas na comunicação. Visitamos as lojinhas de souvenir e Zeynab me presenteou com um  verdadeiro tesouro: um Shahnameh em inglês, de capa dura e ricamente ilustrado!

Saindo do Museu de Tus, passeamos pelo parque que abriga o mausoléu. Ali encontramos as esculturas de Ferdowsi e do herói Rostam, árvores e fontes de água refrescam o clima e ouvimos música tradicional da província de Khorasan vinda dos alto falantes do parque e de músicos que se apresentam para os turistas. Também há umas bancas que vendem uma raspadinha de gelo com suco de laranja (mais gelo que suco).

No parque do mausoléu de Ferdowsi, ao fundo escultura do herói Rostam do épico Shahnameh.
Escultura em mármore representando o ilustre poeta Ferdowsi | Foto: Janaina Elias

Depois, juntou-se a nós o marido de Somayeh e a família me convidou para almoçar em um restaurante chiquérrimo chamado Padideh. Ali tive o prazer de degustar o famoso  shishlik kebab que o rapaz do avião havia recomendado. Ficou gravado em minha mente que o shishlik é uma das maravilhas da culinária de Mashhad, espetinhos de três tipos de carne acompanhados de tomate assado. A quantidade de comida ali mais uma vez me impressionou! Tudo era saboroso: o arroz, o tahchin (que eu provara pela primeira vez no Brasil na casa da cadbanou Nasrin), o pão, a salada, o mast…

A única coisa que meu paladar não conseguiu apreciar foi o famoso dugh, aquele refresco gasoso de iogurte de sabor salgado que os iranianos amam de paixão! Tenho que admitir, naquela hora eu preferi a nossa velha conhecida Coca-Cola… Após o almoço, meus anfitriões me convidaram para um chá numa daquelas salas bem tradicionais de encher os olhos. Aliás, no Padideh tudo é muito lindo e agradável, fiquei pensando na fortuna que meus anfitriões estariam gastando só para me fazer feliz ali em Mashhad…

Almoço no restaurante Padideh em Mashhad, provando o famoso shishlik kebab!
Os iranianos, normalmente, usam a colher para comer o arroz e o garfo para as carnes!

No próximo post, vou contar como foi minha visita ao santuário do Imam Reza e minhas últimas emoções em Mashhad.

>> Deixo com vocês um registro da visita ao túmulo do poeta Ferdowsi: 

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