Viagem ao Irã: Masuleh, vila histórica na província de Gilan

Vilarejo histórico de Masuleh, no norte do Irã | Foto: Janaina Elias

Salam amigos! Hoje vou contar como foi o dia em que visitei Masuleh uma vila histórica no coração da província de Gilan.

📆 Talesh, Irã –  28/08/2013:

Pela manhã, Maryeh me levou para mais um passeio em Talesh. Encontramos sua amiga Masumeh que queria comprar um corte de tecido, e aproveitamos para andar pelas lojinhas, enquanto esperávamos que o pai de Maryeh voltasse para casa para nos levar à Masuleh mais tarde.

Fiquei observando os vestidos de festa nas vitrines, que me lembravam a divertida cafonice dos anos 80. Também havia manteaus e lenços para todos os gostos. Eu adoraria parar para olhar tudo, mas enquanto andávamos pela rua eu tentava desesperadamente contatar alguém para me receber em Tabriz no dia seguinte.

Como já disse, eu era uma espécie de celebridade na cidade. Naquela mesma manhã, Maryeh me apresentou para várias outras pessoas: Sima khanom, uma senhora alegre e simpática que também faz parte do grupo de montanhismo e mora sozinha em uma casa aconchegante cheia de objetos típicos do Gilan (seu marido foi morar na Noruega). Numa tentativa super fofa de falar em inglês comigo ela disse: My name is happines…(querendo dizer I’m happy).

Conheci também a professora de inglês Elham que chamou suas alunas para me verem. Quando chegaram perto de mim, as duas garotas tremiam de nervoso e só conseguiam dizer: Brezil, oh my God… E fui ainda à casa da tia-avó de Maryeh, onde todos também estavam curiosos para me ver e o seu tio-avô ao ouvir que sou do Brasil gritou um sonoro: “Rivaldo!!!”

Depois do almoço, saímos de carro, toda a família junto rumo à Masuleh. A longa estrada margeada por florestas e montanhas que nos leva até essa cidadezinha à 60km de Rasht me lembrou a Serra do Mar em SP. Após, passarmos pela cidade interiorana de Fuman, onde avistamos muitas tendas de artesanatos e biscoitos klucheh (uma especialidade local), finalmente chegamos ao nosso destino. Estacionamos perto de uma ponte onde acima dava para ver o Hotel de Masuleh, fileiras de casas construídas rente às montanhas altíssimas protegidas por uma mata exuberante. A temperatura ali é fresca e uma camada de neblina encobre tudo ao redor.

Chegando no vilarejo de Masuleh | Foto: Janaina Elias
Nas vielas estreitas de Masuleh, automóveis não podem entrar | Foto: Janaina Elias
O charme das varandas de madeira decoradas com vasos de flores coloridas | Foto: Janaina Elias
A maioria das casas antigas tem dois andares e geralmente são pintadas em tom de ocre.
Cemitério de Masuleh, onde estão sepultadas pessoas importantes.

Masuleh é capital do distrito de Sardar-e Jangal, no condado de Fuman. Sua população é de aproximadamente, 800 habitantes que falam o dialeto Taleshi. O vilarejo fica a 1.050 m acima do nível do mar na cordilheira do Alborz. A primeira comunidade de Masuleh foi fundada em  torno do ano 1006, a 6 km de onde se encontra a vila atual para onde o seu povo foi se transferindo ao longo da história. A arquitetura é um espetáculo a parte. As casas foram construídas na montanha de forma que “o quintal da casa acima é o telhado da casa abaixo.”

É proibido, além de  impossível entrar de carro no vilarejo. Para acessar as pequenas vielas subimos por grandes escadarias que exigem bastante disposição. Tínhamos que subir devagar porque para pessoas idosas como a mãe de Peyman e Maryeh, era um verdadeiro sacrifício. A maioria das casas antigas tem dois andares e são feitas de adobe, geralmente pintadas em tom de ocre ou revestidas por uma camada de argila. Vemos também casas novas de alvenaria sendo construídas, ou substituindo as antigas. Nota-se pedreiros trabalhando por toda parte, um deles quase nos atropela com seu carrinho de mão. Outro charme de Masuleh são as janelas de madeira com vasinhos de flores nos parapeitos. Em uma das vielas vemos uma espécie de cemitério com algumas lápides no chão e outras com retratos do falecido desenhadas nas paredes. E como todo em todo vilarejo tradicional, vemos burricos como meio de transporte alternativo.

Turistas de todo Irã e outras partes do mundo visitam Masuleh. Há várias casas de chá, padarias e lojinhas de artesanato onde encontramos não somente os souvenires locais, mas também de outras partes do Irã. Por toda a vila, inclusive há aldeões que vendem bonequinhas de lã. Há tantas coisas para escolher que uma pessoa indecisa como eu literalmente endoidaria, acabei ficando somente com uma bolsinha que a meu ver tinha “cara de Masuleh”. A família insistia em me dar algum presente, eu queria escolher algum que fosse bem especial.

 Tirei uma foto com o traje tradicional gilaki (do Gilan), a saia com faixas coloridas de seda, blusão, colete e um lenço com moedinhas. Ali há um estúdio com o nome de Mah Pishani (Testa de Lua) com um cenário montando, onde na hora você escolhe a roupa e veste por cima das suas mesmo e a fotografia sai no mesmo instante.

Saias com listras coloridas típicas das camponesas do Gilan | Foto: Janaina Elias
Nessa loja, você pode tirar foto com os trajes típicos | Foto: Janaina Elias
Janaina posando para foto com traje típico gilaki (do Gilan)

Em uma das partes mais altas da vila, há um pequeno museu, cuja entrada é quase imperceptível e escondida. Nos corredores estreitos e empoeirados podemos conhecer a fauna da região em exemplares empalhados que parecem vivos. Há diversas aves como gaviões, patos, gansos e um enorme pelicano, pequenos mamíferos como porco-espinhos, furões e texugos ao lado de objetos de cerâmica e vidro e até mesmo um urso enorme e assustador!  

Exemplares de animais empalhados no Museu da Vida Selvagem em Masuleh | Foto: Janaina Elias
Exemplares de ovos, animais e objetos antigos no Museu da Vida Selvagem | Foto: Janaina Elias
Urso empalhado, enorme e assustador (!) no Museu da Vida Selvagem em Masuleh.

Vá para Masuleh preparado para subir, subir subir. É hiper cansativo, mas compensa. Lá do alto, de  um terraço dá para ver um panorama maravilhoso da floresta que se estende pelo vale. Lembrando que em Masuleh em quase todo terraço que você pisa, é o telhado da casa de alguém. Na descida deve-se tomar cuidado porque as escadas são meio escorregadias por causa dos grãozinhos de areia, não vá de salto alto nunca! De tênis eu já achei difícil! Ainda fiz a proeza de botar a mão em um canteiro onde havia uma planta que queimou o meu dedo, portanto cuidado também!

Ao visitar Masuleh, esteja preparado para subir muitas escadas…
Lá no alto, dá para ver um panorama maravilhoso da floresta que se estende pelo vale.
Turistas de várias partes do Irã visitam o vilarejo histórico de Masuleh | Foto: Janaina Elias

Na volta, fizemos um piquenique estilo iraniano. A família parou o carro em um canto qualquer da estrada, embaixo das árvores, estenderam um cobertor em cima de um barranco de onde dava para ver um riacho. Sentamos ali comemos ash (sopa) com pão barbari, frutas e um cházinho com cubinhos de açúcar e balinhas. Lembrando que piquenique de iraniano não tem essa história de coisas descartáveis, traz-se tudo de casa, panelas, pratos, talheres e copos!

Mesmo com os carros passando na estrada, a sensação de esta ali como parte da família, naquele encantador cenário do norte do Irã era de paz e tranquilidade. Lembro também que eles pararam em Fuman para comprar os famosos biscoitos klucheh que os irmãos deram para mim dizendo: “o melhor klucheh para nossa hóspede”. A generosidade deles mais uma vez me tocou a alma.

Depois, só lembro que cheguei em casa tão cansada que deitei no tapete da sala e adormeci ali mesmo do modo mais iraniano possível, ao lado de uma tigela de romãs e de um copo de chá.
Bem amigos, no próximo post vou contar como foi minha despedida de Talesh e minha chegada em Tabriz.

>> Deixo com vocês um pequeno registro no alto do vilarejo de Masuleh:

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